O que eles dizem
"HOUVE tempos em que a actividade política ainda impunha alguns princípios básicos de ética e de conduta. Bastava ser-se suspeito num processo judicial para que qualquer titular de um cargo político, partidário ou público, se sentisse na obrigação de suspender as suas funções ou de renunciar mesmo ao cargo.Agora, instalou-se a moda degradante de um qualquer político envolvido em processos mais ou menos obscuros e comprometedores reagir como se nada de grave se passasse com a sua honorabilidade. «Saí do Governo e regularizei o que havia para regularizar. Estou na plenitude dos meus direitos cívicos», afirmava esta semana Isaltino Morais, quando já sabia que estava na plenitude da sua condição de arguido num processo judicial por branqueamento de capitais, falsas declarações e corrupção passiva.
Esta moda dissoluta chega mesmo ao extremo, nalguns casos, de tentar fazer passar a ideia de que se é vítima - e não suspeito ou mais do que isso - de um sistema judicial totalitário e persecutório. Que actua perversamente à margem do Estado de direito democrático. Fátima Felgueiras, foragida à Justiça, reivindica o estatuto de exilada política. Isaltino «estranha a coincidência» de ser constituído arguido nesta ocasião. Avelino Ferreira Torres, também arguido noutros processos, esbraceja que «é tudo mentira» sobre as investigações da PJ. Valentim Loureiro, mais um arguido no processo «Apito Dourado», desvaloriza o caso e não abre mão dos cargos.
Chegámos, pois, a uma situação em que pode ser-se suspeito de ilícitos criminais. Ou, pior, constituído arguido num processo judicial. Pode mesmo ser-se acusado e presente a julgamento. Ou, inclusive, foragido à Justiça. E continuar a actuar, politicamente, como se os seus direitos e deveres não tivessem sofrido qualquer abalo ou beliscadura. Deixou de haver regras de ética, exemplos de salvaguarda da idoneidade pessoal e da credibilidade das funções. Deixou de haver, simplesmente, vergonha na cara."
José António Lima – Expresso 02.07.2005
Não posso estar mais de acordo com esta opinião, a falta de pudor está instalada no meio político, mas apesar de as pessoas acusarem a classe política e de dizerem que são todos uns corruptos, o facto é que estes senhores lideram todos as sondagens.
Como o saudoso Fernando Pessa diria "E esta hein!"