NO MEU TEMPO
"Estão a ver aquelas conversinhas que vos aborrecem?
Se há conversinha que me aborrece solenemente é aquela que começa por três palavrinhas: «No meu tempo...» e assim por diante.
Chateia-me o paternalismo enternecedor e cínico de quem já viveu mais tempo do que eu e que por isso acha que sabe infinitamente mais do que nós. A ponto de se achar no direito de começar as suas frases por «no meu tempo...». Para já há aqui um equívoco espacio-temporal e existencial: aparentemente estes mamíferos acham, ao proferir estas m*****, que estão noutro tempo que não o nosso. O que me parece deveras preocupante.
Afinal que m**** é essa do «tempo deles»? Este sentimento de posse face a algo tão etéreo e passageiro como o tempo só demonstra, na minha humilde opinião, que qualquer que seja, ou tenha sido, o tempo deles, foi mal empregue. Por uma simples razão: foi erradamente cristalizado, à semelhança dos seus cérebros, provavelmente. Mas o que me chateia mais é a interpretação que estas alimárias fazem daquele que convencionaram ser «o seu tempo»: no seu tempo era tudo mais difícil, o que os torna nuns heroizinhos da m**** noutro tempo que não o deles; no seu tempo os jovens eram mais cultos e interventivos na sociedade; os políticos eram mais idealistas e menos corruptos (que ingenuidade!!); os funcionários públicos eram mais trabalhadores; os professores eram mais severos e eficazes; os pais eram mais responsáveis; as crianças eram menos gordas; os impostos eram mais baixos; o clima era mais ameno; o buraco do ozono era menos esgaçado; o custo de vida era mais acessível; o poder de compra era mais elevado; e o raio que os parta!
Pessoalmente isto aborrece-me. Principalmente porque «no meu tempo» o que eu esperava é que estes gajos que invocam a torto e a direito «o seu tempo» tivessem feito alguma coisa de útil para tornar «o nosso tempo» numa coisa aprazível e, preferencialmente, divertida. Que é exactamente aquilo que me proponho fazer até ao fim do «meu tempo»."
Se há conversinha que me aborrece solenemente é aquela que começa por três palavrinhas: «No meu tempo...» e assim por diante.
Chateia-me o paternalismo enternecedor e cínico de quem já viveu mais tempo do que eu e que por isso acha que sabe infinitamente mais do que nós. A ponto de se achar no direito de começar as suas frases por «no meu tempo...». Para já há aqui um equívoco espacio-temporal e existencial: aparentemente estes mamíferos acham, ao proferir estas m*****, que estão noutro tempo que não o nosso. O que me parece deveras preocupante.
Afinal que m**** é essa do «tempo deles»? Este sentimento de posse face a algo tão etéreo e passageiro como o tempo só demonstra, na minha humilde opinião, que qualquer que seja, ou tenha sido, o tempo deles, foi mal empregue. Por uma simples razão: foi erradamente cristalizado, à semelhança dos seus cérebros, provavelmente. Mas o que me chateia mais é a interpretação que estas alimárias fazem daquele que convencionaram ser «o seu tempo»: no seu tempo era tudo mais difícil, o que os torna nuns heroizinhos da m**** noutro tempo que não o deles; no seu tempo os jovens eram mais cultos e interventivos na sociedade; os políticos eram mais idealistas e menos corruptos (que ingenuidade!!); os funcionários públicos eram mais trabalhadores; os professores eram mais severos e eficazes; os pais eram mais responsáveis; as crianças eram menos gordas; os impostos eram mais baixos; o clima era mais ameno; o buraco do ozono era menos esgaçado; o custo de vida era mais acessível; o poder de compra era mais elevado; e o raio que os parta!
Pessoalmente isto aborrece-me. Principalmente porque «no meu tempo» o que eu esperava é que estes gajos que invocam a torto e a direito «o seu tempo» tivessem feito alguma coisa de útil para tornar «o nosso tempo» numa coisa aprazível e, preferencialmente, divertida. Que é exactamente aquilo que me proponho fazer até ao fim do «meu tempo»."