20 julho 2005

Nós e as Autarquias

Estamos apenas a três meses das próximas eleições autárquicas. Iremos ser chamados novamente a depositar o nosso voto no projecto com que mais nos identificamos para a nossa Freguesia e para o nosso Concelho. Mas ao mesmo tempo, vai-se comentando em conversas tidas entre amigos, que determinada situação seria importante para melhorar as condições de vida, que em vez de a fazerem assim deveria ser feita de outra forma.

O facto é que muitas das vezes essas conversas acabam por ficar na mesa de café onde são tidas, ao mesmo tempo que se afirma que não se acredita na actual maneira de fazer política nem em quem lá está.

Retrocedendo umas décadas, podemos verificar que após o 25 de Abril se assistiu a um interesse generalizado dos portugueses na participação na vida pública e política. Contudo os portugueses têm vindo gradualmente a afastar-se, demonstrando um desinteresse pela “causa pública”, reflectindo-se isso nos actos eleitorais, onde se continuam constantemente a ver as mesmas caras (algumas delas criticadas) novamente a candidatarem-se tendo como consequência a subida em flecha da abstenção.

Muitos são os factores que poderemos apontar, para tal desinteresse que se vêm instalando ao longo dos últimos anos. Basta abrir o jornal, ver ou ouvir o noticiário, para nos depararmos com sinais de desconfiança e acusação (inércia, injustiça, favorecimento, corrupção) em relação a detentores de cargos públicos, das Freguesias aos Concelhos, da esquerda à direita. Mas não serão seguramente só estes “escândalos” que provocam o afastamento. Também os discursos “redondos” com falta de conteúdo contribuem. A população não se revê nos políticos, nos seus projectos, nem nesta forma de fazer política, preferindo afastar-se a contribuir para a resolução dos seus próprios problemas.

Ao mesmo tempo, as opiniões continuam a não sair da mesa do café. Mas, o facto inegável é que não podemos continuar a assistir impávidos e serenos, temos de ser nós próprios a tentar melhorar as nossas próprias condições de vida. Sei que uma pessoa só não poderá mudar o mundo, mas poderemos começar a mudar a nossa casa, ou seja, os nossos concelhos. Não podemos ser meros espectadores pois é da nossa vida que se trata. É importante que os nossos autarcas oiçam para perceberem o que faz falta, quais os reais problemas, necessidades e anseios. Mas para isso é essencial que as pessoas o demonstrem e lutem pelos seus direitos, que dêem a cara, que levem as suas preocupações e as suas ideias da mesa do café para dentro dos Partidos.

Só assim será possível alcançar uma nova realidade, aquela em que o projecto em que votamos se tornou a de o projecto dos que não esperam e não deixam que sejam os outros a decidir por eles a construção do futuro que é de todos nós. Onde todos somos peças decisivas, meio e destinatários das opções.