19 fevereiro 2006

ESTADO DE ESPÍRITO



Neste momento sinto-me exactamente assim.

O árbitro apitou e dirigiu-se para a marca, apesar dos protestos nada há a fazer para evitar este momento. Ao olhar para o banco, vejo o meu colega que neste tipo de lances costuma levar a melhor, mas quem pisou o terreno hoje fui eu, normalmente até é ele que costuma jogar, mas dada as características do jogo e os antecedentes não podia ser hoje ele a estar em campo.

Lanço um olhar fugaz pelo marcador, o público aguarda com expectativa, a minha equipa vai tentando ajudar-me (mas alguns dos meus colegas, dizem que ele irá chutar para a direita, outros para a esquerda, também há aqueles que dizem para não me mexer) antes de dirigir-me para o centro da baliza, sinto a pressão do momento e desligo do que me rodeia, a partir de aqui estarei sozinho, apenas com os meus pensamentos. O suor lentamente começa a cair e sinto cada gota que percorre a minha face como se fosse uma chama, os batimentos cardíacos estão a um ritmo alucinante, olho para cima como que a pedir a bênção divina e fixo o olhar nos olhos gelados do adversário. As imagens de outros momentos passam a uma velocidade vertiginosa pelo meu pensamento, a adrenalina está ao máximo, procuro incessantemente um sinal que o denuncie a cada passo que ele dá, sustenho a respiração, contraio os músculos e é chegada a hora de tomar a decisão....

Mas se no futebol, muitas das vezes mergulho vertiginosamente para a bola, colocando a cabeça, onde muitos nem sequer teriam a coragem de colocar os pés, na política os possíveis danos provocados pela minha decisão pessoal, não irão só afectar-me a mim, mas também a toda a minha equipa.

Em jogo, coloca-se uma possível subida de divisão, não tenho a certeza se iremos ser vitoriosos nessa nova etapa, os riscos são elevados, mas talvez seja a hora de tentar a sorte, necessariamente será necessário a vinda de reforços e uma nova táctica, mas quanto ao resultado final de esta hipotética aventura infelizmente só se poderá saber no fim do jogo. Como tal, continuo a pensar se deverei dar um passo em frente, lançar-me para a direita, para esquerda ou pura e simplesmente ficar quieto, mas o cronómetro, esse é impiedoso e não para, exigindo que uma decisão seja tomada.